quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Pesquisas financiadas pelo MPA vão aprimorar cultivo integrado de espécies marinhas distintas

Uma parceria entre o Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA), a Universidade de São Paulo (USP) e o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) deverá resultar na instalação de um laboratório marinho flutuante e no estabelecimento de um protocolo básico de manejo para cultivos integrados de espécies diferentes de pescados do mar – a chamada Aquicultura Marinha Multitrófica. Estes são alguns dos desafios de dois projetos desenvolvidos pelo MPA, a USP e o CNPQ, sob a coordenação do professor Daniel Lemos, que atua no Laboratório de Aquicultura (LAM) do Instituto de Oceanografia da Universidade de São Paulo.
Lemos estará no Auditório do Ministério da Pesca e Aquicultura, às 14h30 desta sexta-feira (25), para detalhar as etapas, os desafios e os resultados esperados dos dois projetos financiados pelos órgãos parceiros. “Pretendemos incrementar o nível de nossas pesquisas com foco aplicado, ampliando o conhecimento das práticas comerciais de criação de espécies marinhas e identificando os pontos em que as pesquisas devem atuar para a obtenção de soluções”, explica o pesquisador Daniel Lemos.
Um dos estudos em desenvolvimento é o Projeto Aquamar, que investiga as questões consideradas “mais urgentes” sobre alimentação e nutrição na criação de espécies de peixes e camarões marinhos. A pesquisa – intitulada Projeto Ciência sem Fronteiras – é financiada diretamente pelo CNPq. A USP oferece contrapartida em pessoal e infraestrutura de pesquisa.
Iniciado em 2012, o Aquamar também recebe apoio da Fapesp (agência de fomento à pesquisa paulista) e deverá ser concluído até julho de 2016. “Para a piscicultura marinha, um dos principais entraves é a disponibilidade de rações para engorda, que é tema prático desta pesquisa”, conta Daniel Lemos.
O segundo estudo é o Projeto de Aquicultura Multitrófica Integrada Marinha (AMTIM), desenvolvido no mar da região de Ubatuba (SP). “Nosso projeto prevê a criação de peixes, moluscos bivalves e algas. Neste tipo de cultivo (multitrófico), a ideia é que o desenvolvimento e crescimento de uma espécie possa beneficiar as outras”, detalha o pesquisador.
Focado no ensino e na pesquisa, o ANTIM tem como desafios, entre outros, a instalação legal de um laboratório flutuante e o estabelecimento de um protocolo básico de manejo multi-específico em criação. O AMTIM conta com recursos financeiros do MPA e da USP e deverá ser finalizado até janeiro de 2015.
“Apoiamos estas duas importantes iniciativas porque acreditamos no trabalho integrado entre instituições de ensino e pesquisa, governo e produtores, que, na ponta, serão os principais beneficiados pelos estudos”, analisa a secretária de Planejamento e Ordenamento da Aquicultura, Maria Fernanda Nince. “Os projetos inovam ao utilizar o espaço marinho para a pesquisa voltada ao desenvolvimento da Aquicultura Marinha Multitrófica”, completa a secretária.

POTENCIAL BRASILEIRO

Com 12% da água doce disponível do planeta, um litoral de mais de oito mil quilômetros e ainda uma faixa marítima, ou seja, uma Zona Econômica Exclusiva (ZEE), equivalente ao tamanho da Amazônia, o Brasil possui enorme potencial para a aquicultura.
Apenas com o aproveitamento de uma fração desta lâmina d’água é possível criar com fartura, de forma controlada, peixes, crustáceos (camarões etc.), moluscos (mexilhões, ostras, vieiras etc.) e algas, entre outros seres vivos.
Mercado é o que não falta. O consumo de pescado está em alta no mundo inteiro. O pescado é um alimento saudável e cada vez mais procurado pela população, em todas as faixas de renda. Já as algas são um bom exemplo da diversidade de aplicação dos produtos e subprodutos do setor aquícola. Elas são empregadas desde na alimentação à fabricação de produtos cosméticos e fármacos.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda o consumo anual de pescado de pelo menos 12 quilos por habitante/ano. O brasileiro ainda consome abaixo disso.
Entretanto, houve um crescimento de 6,46 kg para 9,03 kg por habitante/ano entre 2003 e 2009. O programa “Mais Pesca e Aquicultura”, do Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA), previa o consumo de 9 kg por habitante/ano apenas em 2011. Portanto, esta meta foi atingida com dois anos de antecedência.
A previsão é de que até 2030 a demanda internacional de pescado aumente em mais 100 milhões de toneladas por ano, de acordo com a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO). A produção mundial hoje é da ordem de 126 milhões de toneladas. O Brasil é um dos poucos países que tem condições de atender à crescente demanda mundial por produtos de origem pesqueira, sobretudo por meio da aquicultura.
Segundo a FAO, o Brasil poderá se tornar um dos maiores produtores do mundo até 2030, ano em que a produção pesqueira nacional teria condições de atingir 20 milhões de toneladas.